23.11.12

O cúmulo da minha bipolaridade na corrida é isto:


começar um treino de 10 kms com a energia de uma caracoleta mas sempre com o delírio que vou despachar aquilo em menos de uma hora, depois passo por momentos doentios e homicidas em relação ao percurso da meia maratona do dia 9 de Dezembro (a minha odiada 24 de Julho) e acabo o treino a arrastar-me e a pensar que naquela zona lamacenta ali mais à frente era mas é bom para escorregar, torcer o pé ou partir um bracinho e acabava-se já com isto.

Cheguei mesmo a imaginar o pé inchado e desculpem lá qualquer coisinha mas com o pé assim não posso mesmo ir à meia maratona. Temos pena.

22.11.12

Há sempre aquela tendência...


... de pensar que quando eles são pequeninos, é tudo tão mais fácil. Saudades disto, saudades daquilo, agora só pode piorar. E de alguma forma, as bochechas gordas e o cheiro a natas de manhã deixam muitas saudades. As gengivas desdentadas, os pés suadinhos com chulé de bebé, o caberem por inteiro no nosso colo, o cotão nos dedos dos pés, o sermos o objecto incondicional da adoração deles.

É verdade que me dá um aperto cada vez que vejo uma foto delas pequeninas ou um filme onde ouço a voz pequenina da qual já nem me lembrava. É verdade que o tempo voa e que já não volta atrás, mas por isso mesmo há que desfrutar de todas as fases sem tanto saudosismo. E contra mim falo.

Que o antes é que era. Não era nada. Antes eram mais chatas, não tomavam banho sozinhas, tinha que lhes dar comida à boca enquanto elas a cerravam com um tranco anti-roubo, faziam algumas birras de envergonhar até ao couro cabeludo, choravam todos os dias para ficar na escola, eram menos obedientes, dormiam pior, davam muito mais trabalho. Eu sei que a adolescência vai ser um período exigente, mas neste momento adoro a idade delas.

A Joana está numa fase companheira e muito muito fácil. É uma miúda um bocadinho temperamental, ui se estiver para aí virada, é uma verdadeira drama queen, injustiçada pelo mundo enquanto diz uns disparates em voz esganiçada que é coisa que me põe doida e depois de repente já somos duas a falar em falsete e parece uma casa de gente doida. Somos muito parecidas.

De manhã não lhe toquem, não lhe falem, deixem-na acordar devagarinho sem grandes alaridos ou demonstrações de carinho. Igual. Mas é a minha companheira de conversas, de planos, de aventuras na piscina, adora ajudar, participar e é super responsável com as coisas da escola. É uma miúda com muita confiança nas suas capacidades e foi eleita delegada de turma logo na 1ª eleição da turma, o que a deixou muito feliz pela confiança que os colegas depositaram nela. Adora jogar monopólio antigo (ainda em escudos e a cheirar a mofo), (re)ensinar-me as divisões com uma data de números dos dois lados, ajudar-me a dividir o miolo das agendas e pôr os convites dentro dos envelopes. É muito interessada, gosta imenso de aprender e é muito ligada à família, adora estar com os avós, tios e priminhos do seu coração de quem toma conta com sentido de prima mais velha. Mas se de repente fica farta, acabou-se. Dá tudo o que tem a dar, mas se se esgota, precisa do seu espaço.

Adora programas só a quatro e desfruta das nossas viagens como uma pequena adulta. Tem um sentido de humor engraçadíssimo e ri-se das minhas maluquices e de todas as piadolas parvas. Está tão mais fácil agora do que quando era pequena. É uma filha muito querida e dedicada, farto-me de lhe dizer isso porque lhe dou muito valor.

A Rita é um raio de sol, tem um sorriso na cara por defeito. É muito fácil de levar, apesar de ser mais teimosa e menos permeável a argumentação. É raro fazer uma birra e está quase sempre bem disposta. É só tocar-lhe de manhã e a boca desenha logo um sorriso desdentado e dispara logo com um b'dia. É mais melosa e meiguinha mas ao mesmo tempo mais desligada das outras pessoas e emocionalmente mais independente. Está a crescer, mas ainda se enrosca no meu colo e ainda tem laivos de bochechinhas e barriga saída. Ainda é o meu baby sem as chatices dos bebés. 

Não interioriza regras com tanta facilidade e deixa um rasto de desarrumação e de lixo por onde passa. Sofre com a mesma intensidade quer a deite às 21h30 ou às 2 da manhã. Nunca obedece à primeira e quando é para fazer qualquer coisa que exija que mexa um dedinho, faz peso morto e espalha-se tipo lagarta no chão e fica para ali a contorcer-se devagar e a lamuriar-se da vida. É uma agarrada às coisas e nem papelinhos rasgados que encontro nos bolsos ou na mochila, me deixa deitar fora. Tenho que andar sempre às escondidas a pôr ordem na lixeira. Já partilha tudo com os primos, coisa que no início era bem difícil, mas dar qualquer coisa dela é quase impossível. Todos os dias quer fazer trabalhos manuais comigo, adora ensinar-me o que aprendeu na expressão plástica mas de vez em quando (ainda que raramente) tenha achaques cada vez que a coisa não corre bem. Rasga os trabalhos ou desenhos que não estão a ficar como quer, tem este lado perfeccionista e entra ali numa espiral de irracionalidade que só ficando sozinha a rasgar coisas é que a coisa acalma. Mas é uma menina super equilibrada e uma filha muito meiguinha, alegre e divertida.

Estamos numa fase muito boa, até porque tirando o caminho escola-casa em que quase se matam no carro, dão-se muito melhor agora do que antes.  E portanto que mais posso pedir? Bebés que choram para dormir e fazem birra para comer? Tenho sobrinhos pequeninos para matar saudades. A elas mando recadinhos nas lancheiras e recebo bilhetinhos debaixo da almofada. Que mais posso querer?

18.11.12

Umbiguices *Natal 2012*

Aqui fica um cheirinho das novidades natalícias para este ano. 

Caixa com chocolates personalizados:
 



Calendário com fotos a preto e branco:


Calendário a preto e branco com detalhe a cores:


Agenda personalizada:


Para ver mais detalhes e informações sobre todos os produtos, clique aqui.

16.11.12

O Natal está aí à porta

e apesar de querermos ajudar toda a gente que se cruza na nossa vida que precisa de apoio, não conseguimos. Eu à minha escala, faço o que consigo. Este ano centrei-me em duas associações, uma que ajuda crianças cá em Portugal e outra em África.

Tenho uma afilhada em Moçambique, do Projecto Nhancutse da Associação Um Pequeno Gesto. Esta associação promove o acesso à educação e a melhoria das condições de vida das crianças desfavorecidas  e das suas famílias. Apadrinhamos uma criança e a ajuda financeira destina-se a ajudar nos gastos com a educação, alimentação, vestuário, medicamentos e despesas hospitalares. Além disso incentivam um contacto estreito entre padrinhos e afilhados. 

E sendo assim, de vez em quando, além da ajuda monetária, envio encomendas, com a ajuda dos Voluntários com Asas, com alguns bens que sei que a Nélia precisa. Escrevo-lhe cartas e as meninas enviam desenhos e trabalhinhos que fazem especialmente para ela. Agora que tiveram a possibilidade de ver como se vive em muitas aldeias africanas, acho que tudo ainda lhes faz mais sentido. A Joana empenha-se mesmo e admira as pessoas que fazem este esforço em ajudar os outros. Diz sempre que se fosse a Nélia, ia adorar ter-me como madrinha! Há-de haver sempre gente que faz muito mais do que eu, mas o "pouco" que faço quero que seja um exemplo para elas.

A Rita é muuuito menos amiga de partilhar e mais agarrada às suas coisas (tanto que quando caiu o seu primeiro dente, nem o quis dar à fada!) e portanto alguma da partilha tem que ser mais forçada e arrancada a ferros, fórceps ou ventosas. Mas com alguns baby steps havemos de lá chegar. Empenha-se nos desenhos e cartas que lhe escreve, mas quando é para dar alguma coisa que é sua, espalha-se ao comprido. Sempre que consegue, valorizo muito.

A encomenda de Natal para a Nélia está pronta e além do que está na foto ainda vão algumas roupas e produtos de higiente que sei que são preciosos para ela.

(aldeia da Nélia)


Para ajudar  aqui em Portugal, juntei-me à inciativa dos Anjinhos de Natal, do Exército de Salvação que proporcionam aos pais a possibilidade de oferecerem um presente aos seus filhos sem que eles percebam que o receberam através de uma instituição. Desta forma, e citando o site, "dignifica-se o papel dos pais". É muito fácil, enviamos um email para ana.almeida@anjinhosdenatal.pt a informar que queremos adoptar um anjinho e recebemos um email com a informação da criança que vamos presentear. Calhou-me uma Sofia de 11 anos que precisa de um fato de treino e de um relógio. Já está tratado, só falta entregar.

E portanto, se estiverem no espírito ou se puderem de alguma forma ajudar, há mesmo muito por onde escolher!

12.11.12

Para recordar:

Halloween 2012.
Pode não ser tradição portuguesa, mas no meu entender tudo o que sirva para brincarmos e nos divertirmos com os miúdos, é muito bem-vindo. 


(aranhas feitas com as mãos)

2.11.12

Para a corrida do Porto (15km)

ia assim num misto de expectativas baixas com uns laivos de optimismo porque tenho sempre uns momentos delirantes em que acho que estou dois meses parada mas que quando recomeço vou estar uma estampa. 

Não queria ultrapassar a 1h30, mas depois da miséria de tempo na Corrida do Tejo, não estava assim muito confiante, mas lá está, ao mesmo tempo achava que ia despachar aquilo num instante. É assim um sentimento meio bipolar de ahhh, se calhar nem consigo acabar..., com uma euforia género ahhh é que se calhar mais um bocadinho e até tinha corrido a maratona!

Mas tinha que correr bem, afinal treinei que me desunhei, andei a passar fome durante dias, a comer peixinho e comida de coelho para depois armazenar os tais hidratos de carbono a que tinha direito. A partir de 5ª feira foi assim um descalabro em termos de alimentação, sempre com muita massa (é que não me falem em esparguete). Mas realmente as pernas estavam com outro andamento.

Fomos todos em família para o Porto, família de corredores e de alguns não corredores mas grandes apoiantes. E a criançada que cresce a ouvir falar em pace, quilómetros, treinos e dores musculares e a ver pai ou mãe, quer faça chuva ou faça sol, a sair estrada fora para uma corridinha.

Estava um frio de morte, sol mas um vento cortante e durante a espera na partida, os meus dentes batiam, toda eu tremia. Os quenianos à frente e os meus chineses logo a seguir. Orgulho. O Nuno que se supera constantemente e que tem uma força de vontade e uma dedicação que eu almejo ter um dia. Que me motiva como ninguém, mas que também sabe chamar-me à terra quando é preciso. Não se queixa de nada, se for preciso corre 30 kms no Alentejo sozinho e logo a seguir vem de bicicleta acompanhar-me nos meus treinos. That's my boy. O Ricardo que parece que faz isto com uma pernas às costas e que me matraqueia sempre sobre a alimentação. Corre aos saltinhos com uma leveza e respira só pelo nariz, que é uma das minhas grandes ambições de vida :). O João, um optimista por natureza e sempre pronto para grandes desafios com os irmãos, nunca hesita. De alças na partida, sem sentir frio como se estivessem 35 graus. Sempre o conheci assim de manga curta em pleno inverno.

Eles partiram e nós ficámos cá mais para trás com uma visão sobre a mancha de corredores na subida logo em frente, a rua às cores cheia de gente, malta nova, algumas crianças, muitos velhotes chupadinhos ou barrigudos, velhotas que me ultrapassam, homens feios, bonitos, mulheres magras, gordas. Mas todos com uma razão muito particular para o fazer. 

Soube-me mesmo bem correr neste dia, apesar das enormes dores de garganta e do ar frio que me doía e das rajadas de vento que tanto me empurravam como me travavam. Ia leve, feliz com a playlist no ipod, entretida a ver as ruas do Porto e sem caminhantes para ultrapassar, que muito respeito, mas que atrapalham tanto os inícios das corridas.

 Fiz os 10 kms em 56 minutos. Estava maluca com o meu pace, não me sentia cansada. O percurso era fácil, tinha descidas, muito trajecto plano e algumas subidas curtas, tirando a última mais longa. Os tais 15 km, são afinal mais de 16 km e no fim fui atacada na subida por dor de burro que teimava em não passar, já nem me conseguia endireitar. Quando o relógio apitou os 15 kms não havia sinal da meta. Continuei a subir irritada como uma bombinha de carnaval prestes a rebentar. Aos 16.300 lá passei a meta meia marreca. Fiz os 15 km em 1:28. Os 16.300 fiz em 1:36.

Reencontrei-me com a Catarina e Isabel e lá fomos nós posicionar-nos para ver a Joaninha que entretanto fez a caminhada a caminhar. Saltei as barreiras e vim a correr de mão dada com ela até à meta, mas coitadinha vinha adoentada e frustrada por não ter conseguido correr, mas a tosse não deixou. A seguir fomos aplaudir os maratonistas e apanhar os nossos e correr um bocadinho com eles na recta final. Muito pouca gente na rua a aplaudir, só mesmo perto da meta. É pena não se conseguir mobilizar mais as pessoas. Mas tentámos dar algum alento naqueles minutos finais e mostrar que a meta era já ali ao virar da esquina.

No fim, um banho quentinho, um belo bife cheio de molho, muita batata frita (juro que ouvi o meu corpo a dar gritinhos de alegria) e uma rouquidão que me deixou afónica. Mas esta corrida motivou-me como poucas e já sonho com voos um bocadinho mais altos.