Nem sei bem por onde começar.
Talvez
pelo delírio de achar que no dia 27 de Dezembro a Vila Natal estaria às
moscas, vai estar tudo a trabalhar, menos nós e tal, nem são férias
escolares nem nada, enfim, há-de ser um sonho tornado realidade.
Mas apesar de ser 6ª feira, era domingo na Vila Natal.
Chegámos
em plena hora de almoço esgalfinhadinhos com fome, sem ter conseguido
marcar mesa em lado nenhum, convictos que chegaríamos a tempo de
arranjar um buraquinho para almoçar. Esquece, engole um pão com chouriço
em andamento e não digas que vais daqui. Com a Rita a queixar-se que não gosta de
chouriço, a Joana que não gosta do pão e vamos lá embora que ainda
nem sequer entrámos na VN propriamente dita.
Bilheteiras,
fila interminável até ao cimo da ladeira. As miúdas eléctricas a
implicar uma com a outra, numa mistura de zanga, provocação e risota
cúmplice que me estava já a complicar com os nervos. E quando as nossas
se portam mal, parece que todas as crianças à volta se portam bem,
porque ficam espantadas, de boca ligeiramente aberta a olhar para o
espectáculo. No meio do silêncio das crianças estupefactas
com a energia das nossas, só se ouvem as nossas. E as nossas quando percebem que têm assistência ficam ao rubro.
Depois
de entrar... enfim, é para esquecer. A ideia é gira, mas não está
preparada para tanta gente. Estava tudo apinhado de gente, não se
conseguia entrar em lado nenhum, só famílias e mais famílias,
criancinhas aos gritos, pais descabelados, escolas inteiras, gente
malcriada, gente impávida e serena, que tanto invejo. Eu estava gente
se-me-tocas-apanhas. Mas tentei manter a compostura que a mãe do Ruca teria naquela situação.
Então toca de nos enfaixarmos logo na fila para a patinagem no gelo cujo
ringue devia ter um metro quadrado de tamanho com uma mancha de
crianças e adultos descontrolados a cair ou a andar mais depressa do que
deviam. Um cenário de horror.
Devíamos
ter uma hora de fila na frente, no mesmo registo da fila da bilheteira.
Deixei o Nuno a tomar conta da ocorrência e fui-me sentar um bocadinho
enquando observava o espectáculo das famílias todas em ponto de
rebuçado. Que tem alguma graça, confesso. Quando chegou a nossa vez, a
pista fechou meia hora para manutenção. Perfeito. Já só pensava como
gostava mas é de estar em casa, enroscadinha com elas no sofá a jogar um
jogo ou a ler um livro. Lá foram, divertiram-se imenso e ainda consegui
alegrar-me com o espectáculo de um menino aí de 4 anos com a maior
birra de todos os tempos. Todo ele era ranho. Quando não é com os
nossos, até distrai e dá aquela sensação de que mesmo assim, há sempre
muito pior.
Enfim,
a Joana ainda subiu uma parede de escalada e teve que pôr um
capacete e eu só pensava em piolhos. A Rita andou num escorrega
desenxaibido e fugimos dali para fora. Não vimos espectáculo de
marionetas. Estava cheio. Não vimos a casa do pai natal. Estava cheia.
Não entrámos nas restantes coisas. Estavam cheias. E ainda havia aquela
neve a fingir, que sempre que caía era a Vila Natal em peso a deslocar-se em êxtase para ficar
com bocadinhos de espuma branca no cabelo e roupa. Mais um cenário de
horror.
O ano passado fomos dia 2 de Janeiro e divertimo-nos. Este ano foram elas que disseram: nunca mais cá voltamos, pois não? Olha que bom, nisso estamos mesmo de acordo.