22.11.12

Há sempre aquela tendência...


... de pensar que quando eles são pequeninos, é tudo tão mais fácil. Saudades disto, saudades daquilo, agora só pode piorar. E de alguma forma, as bochechas gordas e o cheiro a natas de manhã deixam muitas saudades. As gengivas desdentadas, os pés suadinhos com chulé de bebé, o caberem por inteiro no nosso colo, o cotão nos dedos dos pés, o sermos o objecto incondicional da adoração deles.

É verdade que me dá um aperto cada vez que vejo uma foto delas pequeninas ou um filme onde ouço a voz pequenina da qual já nem me lembrava. É verdade que o tempo voa e que já não volta atrás, mas por isso mesmo há que desfrutar de todas as fases sem tanto saudosismo. E contra mim falo.

Que o antes é que era. Não era nada. Antes eram mais chatas, não tomavam banho sozinhas, tinha que lhes dar comida à boca enquanto elas a cerravam com um tranco anti-roubo, faziam algumas birras de envergonhar até ao couro cabeludo, choravam todos os dias para ficar na escola, eram menos obedientes, dormiam pior, davam muito mais trabalho. Eu sei que a adolescência vai ser um período exigente, mas neste momento adoro a idade delas.

A Joana está numa fase companheira e muito muito fácil. É uma miúda um bocadinho temperamental, ui se estiver para aí virada, é uma verdadeira drama queen, injustiçada pelo mundo enquanto diz uns disparates em voz esganiçada que é coisa que me põe doida e depois de repente já somos duas a falar em falsete e parece uma casa de gente doida. Somos muito parecidas.

De manhã não lhe toquem, não lhe falem, deixem-na acordar devagarinho sem grandes alaridos ou demonstrações de carinho. Igual. Mas é a minha companheira de conversas, de planos, de aventuras na piscina, adora ajudar, participar e é super responsável com as coisas da escola. É uma miúda com muita confiança nas suas capacidades e foi eleita delegada de turma logo na 1ª eleição da turma, o que a deixou muito feliz pela confiança que os colegas depositaram nela. Adora jogar monopólio antigo (ainda em escudos e a cheirar a mofo), (re)ensinar-me as divisões com uma data de números dos dois lados, ajudar-me a dividir o miolo das agendas e pôr os convites dentro dos envelopes. É muito interessada, gosta imenso de aprender e é muito ligada à família, adora estar com os avós, tios e priminhos do seu coração de quem toma conta com sentido de prima mais velha. Mas se de repente fica farta, acabou-se. Dá tudo o que tem a dar, mas se se esgota, precisa do seu espaço.

Adora programas só a quatro e desfruta das nossas viagens como uma pequena adulta. Tem um sentido de humor engraçadíssimo e ri-se das minhas maluquices e de todas as piadolas parvas. Está tão mais fácil agora do que quando era pequena. É uma filha muito querida e dedicada, farto-me de lhe dizer isso porque lhe dou muito valor.

A Rita é um raio de sol, tem um sorriso na cara por defeito. É muito fácil de levar, apesar de ser mais teimosa e menos permeável a argumentação. É raro fazer uma birra e está quase sempre bem disposta. É só tocar-lhe de manhã e a boca desenha logo um sorriso desdentado e dispara logo com um b'dia. É mais melosa e meiguinha mas ao mesmo tempo mais desligada das outras pessoas e emocionalmente mais independente. Está a crescer, mas ainda se enrosca no meu colo e ainda tem laivos de bochechinhas e barriga saída. Ainda é o meu baby sem as chatices dos bebés. 

Não interioriza regras com tanta facilidade e deixa um rasto de desarrumação e de lixo por onde passa. Sofre com a mesma intensidade quer a deite às 21h30 ou às 2 da manhã. Nunca obedece à primeira e quando é para fazer qualquer coisa que exija que mexa um dedinho, faz peso morto e espalha-se tipo lagarta no chão e fica para ali a contorcer-se devagar e a lamuriar-se da vida. É uma agarrada às coisas e nem papelinhos rasgados que encontro nos bolsos ou na mochila, me deixa deitar fora. Tenho que andar sempre às escondidas a pôr ordem na lixeira. Já partilha tudo com os primos, coisa que no início era bem difícil, mas dar qualquer coisa dela é quase impossível. Todos os dias quer fazer trabalhos manuais comigo, adora ensinar-me o que aprendeu na expressão plástica mas de vez em quando (ainda que raramente) tenha achaques cada vez que a coisa não corre bem. Rasga os trabalhos ou desenhos que não estão a ficar como quer, tem este lado perfeccionista e entra ali numa espiral de irracionalidade que só ficando sozinha a rasgar coisas é que a coisa acalma. Mas é uma menina super equilibrada e uma filha muito meiguinha, alegre e divertida.

Estamos numa fase muito boa, até porque tirando o caminho escola-casa em que quase se matam no carro, dão-se muito melhor agora do que antes.  E portanto que mais posso pedir? Bebés que choram para dormir e fazem birra para comer? Tenho sobrinhos pequeninos para matar saudades. A elas mando recadinhos nas lancheiras e recebo bilhetinhos debaixo da almofada. Que mais posso querer?

6 comentários:

Catarina Trindade disse...

Lindo, Lindo; Lindo ...

Amei.

Arrepiei.

Tudo tão bem sentido e escrito como só tu sabes fazer.

Quanto a mim sou fã incondicional das tuas filhas. Cada uma à sua maneira, Adoro as tuas.

Mas...confesso que tenho saudades dos bébés ...

Conceição disse...

Que bom Inês! De facto são umas meninas lindas de quem eu gosto muito. Desfrute ao máximo. Eu sempre adorei todas as fases por que os meus filhos passaram. Bjs

Filipa disse...

Aproveita Inês, porque os teen dão um pouco mais de trabalho. Mas estou contigo, todas as fases tem algo de giro. Como só tens girls, não conheces as face
tas dos boys. Para eles tudo é uma brincadeira. Espero que cresça um pouco mas que mantenha o bom humor de manhã à noite.

Beijinhos Adorei as fotos

Orgulhosa disse...

Só posso dizer que escreves como ninguém. O que sentes é o mesmo que já senti e continuo a sentir e sentirei até morrer.
São os nossos tesouros tenham a idade que tiverem, aproveita que o tempo não tem dó!!!!


És única Inês!

Umbigo disse...

muito obrigada sogrinha!! beijinhos grandes

Anónimo disse...

Muito bem escrito. Com estilo.
Só um lapso: em vez de "choravam todos os dias para ficar na escola", deveria ser "choravam todos os dias por ficar na escola". Uma preposição altera tudo...

O PICUINHAS DA ALAMEDA