4.1.13

Vila Natal.

Nem sei bem por onde começar. 
Talvez pelo delírio de achar que no dia 27 de Dezembro a Vila Natal estaria às moscas, vai estar tudo a trabalhar, menos nós e tal, nem são férias escolares nem nada, enfim, há-de ser um sonho tornado realidade.

Mas apesar de ser 6ª feira, era domingo na Vila Natal.

Chegámos em plena hora de almoço esgalfinhadinhos com fome, sem ter conseguido marcar mesa em lado nenhum, convictos que chegaríamos a tempo de arranjar um buraquinho para almoçar. Esquece, engole um pão com chouriço em andamento e não digas que vais daqui. Com a Rita a queixar-se que não gosta de chouriço, a Joana que não gosta do pão e vamos lá embora que ainda nem sequer entrámos na VN propriamente dita. 

Bilheteiras, fila interminável até ao cimo da ladeira. As miúdas eléctricas a implicar uma com a outra, numa mistura de zanga, provocação e risota cúmplice que me estava já a complicar com os nervos. E quando as nossas se portam mal, parece que todas as crianças à volta se portam bem, porque ficam espantadas, de boca ligeiramente aberta a olhar para o espectáculo. No meio do silêncio das crianças estupefactas com a energia das nossas, só se ouvem as nossas. E as nossas quando percebem que têm assistência ficam ao rubro.

Depois de entrar... enfim, é para esquecer. A ideia é gira, mas não está preparada para tanta gente. Estava tudo apinhado de gente, não se conseguia entrar em lado nenhum, só famílias e mais famílias, criancinhas aos gritos, pais descabelados, escolas inteiras, gente malcriada, gente impávida e serena, que tanto invejo. Eu estava gente se-me-tocas-apanhas. Mas tentei manter a compostura que a mãe do Ruca teria naquela situação. Então toca de nos enfaixarmos logo na fila para a patinagem no gelo cujo ringue devia ter um metro quadrado de tamanho com uma mancha de crianças e adultos descontrolados a cair ou a andar mais depressa do que deviam. Um cenário de horror.

Devíamos ter uma hora de fila na frente, no mesmo registo da fila da bilheteira. Deixei o Nuno a tomar conta da ocorrência e fui-me sentar um bocadinho enquando observava o espectáculo das famílias todas em ponto de rebuçado. Que tem alguma graça, confesso. Quando chegou a nossa vez, a pista fechou meia hora para manutenção. Perfeito. Já só pensava como gostava mas é de estar em casa, enroscadinha com elas no sofá a jogar um jogo ou a ler um livro. Lá foram, divertiram-se imenso e ainda consegui alegrar-me com o espectáculo de um menino aí de 4 anos com a maior birra de todos os tempos. Todo ele era ranho. Quando não é com os nossos, até distrai e dá aquela sensação de que mesmo assim, há sempre muito pior.

Enfim, a Joana ainda subiu uma parede de escalada e teve que  pôr um capacete e eu só pensava em piolhos. A Rita andou num escorrega desenxaibido e fugimos dali para fora. Não vimos espectáculo de marionetas. Estava cheio. Não vimos a casa do pai natal. Estava cheia. Não entrámos nas restantes coisas. Estavam cheias. E ainda havia aquela neve a fingir, que sempre que caía era a Vila Natal em peso a deslocar-se em êxtase  para ficar com bocadinhos de espuma branca no cabelo e roupa. Mais um cenário de horror.

O ano passado fomos dia 2 de Janeiro e divertimo-nos. Este ano foram elas que disseram: nunca mais cá voltamos, pois não? Olha que bom, nisso estamos mesmo de acordo.

3.1.13

Este ano,

como já faz parte da minha tradição, atrasei-me nos preparativos  para o Natal. De repente "acordo" e já estamos no fim de Novembro e tenho quase tudo por fazer. Das 1001 ideias que marinam na minha cabeça durante todo o ano, no que diz respeito a enfeites, surpresas para as meninas, presentes, produtos para o Natal, a lista fica reduzida a algumas poucas ideias que ainda terei tempo de concretizar e o Natal esfuma-se assim em pouco tempo. Mea culpa.

Graças ao muito simpático post da Pipoca Mais Doce, este foi o meu melhor Natal em termos de vendas. As umbiguices chegaram a muito mais gente e foi uma catapulta para a notoriedade da minha marca. Em 3 semanas produzi duas centenas de caixas de chocolates, e quase uma centena de agendas e calendários. Foi fantástico. Pouco dormi, pouca atenção dei às miúdas, em casa de férias praticamente em auto-gestão mas particularmente compreensivas, recrutei mão de obra infantil (bendita Joana!) para me cortar fios e fita cola e muitas outras coisas e mais uma vez senti que a magia do Natal me passou ao lado.

O meu escritório parecia uma zona de guerra que se foi estendendo até à sala. Detesto viver assim, mas não havia tempo para melhor. A parte da gestão de emails tirava-me mais tempo do que a que eu gostaria. Passava muitas horas por dia a responder a dúvidas ou comentários de clientes, a gerir moradas, pacotes de correios, impressos de correio registado, embrulhos com bolhinhas para nada falhar. Mais as idas aos correios, que nessa altura são de fugir, horas na staples a encadernar agendas e comprar material. A meio da loucura tive um problema no meu outlook e perdi todos os emails que tinha arquivado com as fotografias dos clientes, o que dá sempre aquela pitada de emoção.

A produção de uma caixa de chocolates tem muitos passos: várias fitas, faixas, flor de cartolina, fita cola, personalização de chocolates, cortar aqui e ali, mais fita cola, papel de seda, cartãozinho de boas festas, embrulho, etiqueta natalícia, mais fio, mais fita cola. Mas é assim que gosto de fazer as coisas, com todos aqueles detalhes especiais que fazem a diferença.

Não me queixo, são 3 ou 4 semanas super intensas mas recompensadoras, já que as pessoas são muito queridas e carinhosas com o meu trabalho. Tiram uns minutos do seu tempo para me enviar um email a dizer que gostaram muito, que foi especial para a pessoa que recebeu, não são parcas em palavras e ainda sabem elogiar quando é preciso. Ou criticar também, se alguma coisa não está bem. Ajuda muito, quando se trabalha sozinha, ter este feedback das pessoas.

A partir de dia 22 de Dezembro, fechei a loja. Tinha um Natal para viver, presentes de Natal para comprar (dos poucos que não comprei via net) e horas para dormir.  O próximo ano avizinha-se bom, já com muito trabalho na calha e muitas muitas ideias a fervilhar. Hoje as meninas regressaram à escola, depois de quase três semanas de férias e é assim com um misto de alívio e vazio que vejo as festas terminarem.

E foi quase no dia de Natal que fomos pela última vez aos correios, desta vez para algo muito mais importante:


Entretanto fica aqui a minha primeira promessa do ano. Não me apanham na curva outra vez. Vou começar já a preparar o Natal 2013. Está prometido.

Hum... hoje ainda não, começo amanhã.

23.11.12

O cúmulo da minha bipolaridade na corrida é isto:


começar um treino de 10 kms com a energia de uma caracoleta mas sempre com o delírio que vou despachar aquilo em menos de uma hora, depois passo por momentos doentios e homicidas em relação ao percurso da meia maratona do dia 9 de Dezembro (a minha odiada 24 de Julho) e acabo o treino a arrastar-me e a pensar que naquela zona lamacenta ali mais à frente era mas é bom para escorregar, torcer o pé ou partir um bracinho e acabava-se já com isto.

Cheguei mesmo a imaginar o pé inchado e desculpem lá qualquer coisinha mas com o pé assim não posso mesmo ir à meia maratona. Temos pena.

22.11.12

Há sempre aquela tendência...


... de pensar que quando eles são pequeninos, é tudo tão mais fácil. Saudades disto, saudades daquilo, agora só pode piorar. E de alguma forma, as bochechas gordas e o cheiro a natas de manhã deixam muitas saudades. As gengivas desdentadas, os pés suadinhos com chulé de bebé, o caberem por inteiro no nosso colo, o cotão nos dedos dos pés, o sermos o objecto incondicional da adoração deles.

É verdade que me dá um aperto cada vez que vejo uma foto delas pequeninas ou um filme onde ouço a voz pequenina da qual já nem me lembrava. É verdade que o tempo voa e que já não volta atrás, mas por isso mesmo há que desfrutar de todas as fases sem tanto saudosismo. E contra mim falo.

Que o antes é que era. Não era nada. Antes eram mais chatas, não tomavam banho sozinhas, tinha que lhes dar comida à boca enquanto elas a cerravam com um tranco anti-roubo, faziam algumas birras de envergonhar até ao couro cabeludo, choravam todos os dias para ficar na escola, eram menos obedientes, dormiam pior, davam muito mais trabalho. Eu sei que a adolescência vai ser um período exigente, mas neste momento adoro a idade delas.

A Joana está numa fase companheira e muito muito fácil. É uma miúda um bocadinho temperamental, ui se estiver para aí virada, é uma verdadeira drama queen, injustiçada pelo mundo enquanto diz uns disparates em voz esganiçada que é coisa que me põe doida e depois de repente já somos duas a falar em falsete e parece uma casa de gente doida. Somos muito parecidas.

De manhã não lhe toquem, não lhe falem, deixem-na acordar devagarinho sem grandes alaridos ou demonstrações de carinho. Igual. Mas é a minha companheira de conversas, de planos, de aventuras na piscina, adora ajudar, participar e é super responsável com as coisas da escola. É uma miúda com muita confiança nas suas capacidades e foi eleita delegada de turma logo na 1ª eleição da turma, o que a deixou muito feliz pela confiança que os colegas depositaram nela. Adora jogar monopólio antigo (ainda em escudos e a cheirar a mofo), (re)ensinar-me as divisões com uma data de números dos dois lados, ajudar-me a dividir o miolo das agendas e pôr os convites dentro dos envelopes. É muito interessada, gosta imenso de aprender e é muito ligada à família, adora estar com os avós, tios e priminhos do seu coração de quem toma conta com sentido de prima mais velha. Mas se de repente fica farta, acabou-se. Dá tudo o que tem a dar, mas se se esgota, precisa do seu espaço.

Adora programas só a quatro e desfruta das nossas viagens como uma pequena adulta. Tem um sentido de humor engraçadíssimo e ri-se das minhas maluquices e de todas as piadolas parvas. Está tão mais fácil agora do que quando era pequena. É uma filha muito querida e dedicada, farto-me de lhe dizer isso porque lhe dou muito valor.

A Rita é um raio de sol, tem um sorriso na cara por defeito. É muito fácil de levar, apesar de ser mais teimosa e menos permeável a argumentação. É raro fazer uma birra e está quase sempre bem disposta. É só tocar-lhe de manhã e a boca desenha logo um sorriso desdentado e dispara logo com um b'dia. É mais melosa e meiguinha mas ao mesmo tempo mais desligada das outras pessoas e emocionalmente mais independente. Está a crescer, mas ainda se enrosca no meu colo e ainda tem laivos de bochechinhas e barriga saída. Ainda é o meu baby sem as chatices dos bebés. 

Não interioriza regras com tanta facilidade e deixa um rasto de desarrumação e de lixo por onde passa. Sofre com a mesma intensidade quer a deite às 21h30 ou às 2 da manhã. Nunca obedece à primeira e quando é para fazer qualquer coisa que exija que mexa um dedinho, faz peso morto e espalha-se tipo lagarta no chão e fica para ali a contorcer-se devagar e a lamuriar-se da vida. É uma agarrada às coisas e nem papelinhos rasgados que encontro nos bolsos ou na mochila, me deixa deitar fora. Tenho que andar sempre às escondidas a pôr ordem na lixeira. Já partilha tudo com os primos, coisa que no início era bem difícil, mas dar qualquer coisa dela é quase impossível. Todos os dias quer fazer trabalhos manuais comigo, adora ensinar-me o que aprendeu na expressão plástica mas de vez em quando (ainda que raramente) tenha achaques cada vez que a coisa não corre bem. Rasga os trabalhos ou desenhos que não estão a ficar como quer, tem este lado perfeccionista e entra ali numa espiral de irracionalidade que só ficando sozinha a rasgar coisas é que a coisa acalma. Mas é uma menina super equilibrada e uma filha muito meiguinha, alegre e divertida.

Estamos numa fase muito boa, até porque tirando o caminho escola-casa em que quase se matam no carro, dão-se muito melhor agora do que antes.  E portanto que mais posso pedir? Bebés que choram para dormir e fazem birra para comer? Tenho sobrinhos pequeninos para matar saudades. A elas mando recadinhos nas lancheiras e recebo bilhetinhos debaixo da almofada. Que mais posso querer?

18.11.12

Umbiguices *Natal 2012*

Aqui fica um cheirinho das novidades natalícias para este ano. 

Caixa com chocolates personalizados:
 



Calendário com fotos a preto e branco:


Calendário a preto e branco com detalhe a cores:


Agenda personalizada:


Para ver mais detalhes e informações sobre todos os produtos, clique aqui.

16.11.12

O Natal está aí à porta

e apesar de querermos ajudar toda a gente que se cruza na nossa vida que precisa de apoio, não conseguimos. Eu à minha escala, faço o que consigo. Este ano centrei-me em duas associações, uma que ajuda crianças cá em Portugal e outra em África.

Tenho uma afilhada em Moçambique, do Projecto Nhancutse da Associação Um Pequeno Gesto. Esta associação promove o acesso à educação e a melhoria das condições de vida das crianças desfavorecidas  e das suas famílias. Apadrinhamos uma criança e a ajuda financeira destina-se a ajudar nos gastos com a educação, alimentação, vestuário, medicamentos e despesas hospitalares. Além disso incentivam um contacto estreito entre padrinhos e afilhados. 

E sendo assim, de vez em quando, além da ajuda monetária, envio encomendas, com a ajuda dos Voluntários com Asas, com alguns bens que sei que a Nélia precisa. Escrevo-lhe cartas e as meninas enviam desenhos e trabalhinhos que fazem especialmente para ela. Agora que tiveram a possibilidade de ver como se vive em muitas aldeias africanas, acho que tudo ainda lhes faz mais sentido. A Joana empenha-se mesmo e admira as pessoas que fazem este esforço em ajudar os outros. Diz sempre que se fosse a Nélia, ia adorar ter-me como madrinha! Há-de haver sempre gente que faz muito mais do que eu, mas o "pouco" que faço quero que seja um exemplo para elas.

A Rita é muuuito menos amiga de partilhar e mais agarrada às suas coisas (tanto que quando caiu o seu primeiro dente, nem o quis dar à fada!) e portanto alguma da partilha tem que ser mais forçada e arrancada a ferros, fórceps ou ventosas. Mas com alguns baby steps havemos de lá chegar. Empenha-se nos desenhos e cartas que lhe escreve, mas quando é para dar alguma coisa que é sua, espalha-se ao comprido. Sempre que consegue, valorizo muito.

A encomenda de Natal para a Nélia está pronta e além do que está na foto ainda vão algumas roupas e produtos de higiente que sei que são preciosos para ela.

(aldeia da Nélia)


Para ajudar  aqui em Portugal, juntei-me à inciativa dos Anjinhos de Natal, do Exército de Salvação que proporcionam aos pais a possibilidade de oferecerem um presente aos seus filhos sem que eles percebam que o receberam através de uma instituição. Desta forma, e citando o site, "dignifica-se o papel dos pais". É muito fácil, enviamos um email para ana.almeida@anjinhosdenatal.pt a informar que queremos adoptar um anjinho e recebemos um email com a informação da criança que vamos presentear. Calhou-me uma Sofia de 11 anos que precisa de um fato de treino e de um relógio. Já está tratado, só falta entregar.

E portanto, se estiverem no espírito ou se puderem de alguma forma ajudar, há mesmo muito por onde escolher!

12.11.12

Para recordar:

Halloween 2012.
Pode não ser tradição portuguesa, mas no meu entender tudo o que sirva para brincarmos e nos divertirmos com os miúdos, é muito bem-vindo. 


(aranhas feitas com as mãos)

2.11.12

Para a corrida do Porto (15km)

ia assim num misto de expectativas baixas com uns laivos de optimismo porque tenho sempre uns momentos delirantes em que acho que estou dois meses parada mas que quando recomeço vou estar uma estampa. 

Não queria ultrapassar a 1h30, mas depois da miséria de tempo na Corrida do Tejo, não estava assim muito confiante, mas lá está, ao mesmo tempo achava que ia despachar aquilo num instante. É assim um sentimento meio bipolar de ahhh, se calhar nem consigo acabar..., com uma euforia género ahhh é que se calhar mais um bocadinho e até tinha corrido a maratona!

Mas tinha que correr bem, afinal treinei que me desunhei, andei a passar fome durante dias, a comer peixinho e comida de coelho para depois armazenar os tais hidratos de carbono a que tinha direito. A partir de 5ª feira foi assim um descalabro em termos de alimentação, sempre com muita massa (é que não me falem em esparguete). Mas realmente as pernas estavam com outro andamento.

Fomos todos em família para o Porto, família de corredores e de alguns não corredores mas grandes apoiantes. E a criançada que cresce a ouvir falar em pace, quilómetros, treinos e dores musculares e a ver pai ou mãe, quer faça chuva ou faça sol, a sair estrada fora para uma corridinha.

Estava um frio de morte, sol mas um vento cortante e durante a espera na partida, os meus dentes batiam, toda eu tremia. Os quenianos à frente e os meus chineses logo a seguir. Orgulho. O Nuno que se supera constantemente e que tem uma força de vontade e uma dedicação que eu almejo ter um dia. Que me motiva como ninguém, mas que também sabe chamar-me à terra quando é preciso. Não se queixa de nada, se for preciso corre 30 kms no Alentejo sozinho e logo a seguir vem de bicicleta acompanhar-me nos meus treinos. That's my boy. O Ricardo que parece que faz isto com uma pernas às costas e que me matraqueia sempre sobre a alimentação. Corre aos saltinhos com uma leveza e respira só pelo nariz, que é uma das minhas grandes ambições de vida :). O João, um optimista por natureza e sempre pronto para grandes desafios com os irmãos, nunca hesita. De alças na partida, sem sentir frio como se estivessem 35 graus. Sempre o conheci assim de manga curta em pleno inverno.

Eles partiram e nós ficámos cá mais para trás com uma visão sobre a mancha de corredores na subida logo em frente, a rua às cores cheia de gente, malta nova, algumas crianças, muitos velhotes chupadinhos ou barrigudos, velhotas que me ultrapassam, homens feios, bonitos, mulheres magras, gordas. Mas todos com uma razão muito particular para o fazer. 

Soube-me mesmo bem correr neste dia, apesar das enormes dores de garganta e do ar frio que me doía e das rajadas de vento que tanto me empurravam como me travavam. Ia leve, feliz com a playlist no ipod, entretida a ver as ruas do Porto e sem caminhantes para ultrapassar, que muito respeito, mas que atrapalham tanto os inícios das corridas.

 Fiz os 10 kms em 56 minutos. Estava maluca com o meu pace, não me sentia cansada. O percurso era fácil, tinha descidas, muito trajecto plano e algumas subidas curtas, tirando a última mais longa. Os tais 15 km, são afinal mais de 16 km e no fim fui atacada na subida por dor de burro que teimava em não passar, já nem me conseguia endireitar. Quando o relógio apitou os 15 kms não havia sinal da meta. Continuei a subir irritada como uma bombinha de carnaval prestes a rebentar. Aos 16.300 lá passei a meta meia marreca. Fiz os 15 km em 1:28. Os 16.300 fiz em 1:36.

Reencontrei-me com a Catarina e Isabel e lá fomos nós posicionar-nos para ver a Joaninha que entretanto fez a caminhada a caminhar. Saltei as barreiras e vim a correr de mão dada com ela até à meta, mas coitadinha vinha adoentada e frustrada por não ter conseguido correr, mas a tosse não deixou. A seguir fomos aplaudir os maratonistas e apanhar os nossos e correr um bocadinho com eles na recta final. Muito pouca gente na rua a aplaudir, só mesmo perto da meta. É pena não se conseguir mobilizar mais as pessoas. Mas tentámos dar algum alento naqueles minutos finais e mostrar que a meta era já ali ao virar da esquina.

No fim, um banho quentinho, um belo bife cheio de molho, muita batata frita (juro que ouvi o meu corpo a dar gritinhos de alegria) e uma rouquidão que me deixou afónica. Mas esta corrida motivou-me como poucas e já sonho com voos um bocadinho mais altos.

22.10.12

Tiram-me os hidratos de carbono,


e eu não me responsabilizo.

Mas tenho que me aguentar até 5ª feira sem comer pães de leite. Agora que eu conheci os pães de leite da Padaria Portuguesa. Batata, pão, massa. Crepes com nutela. "Ah e tal, até 4ª não podes, depois a partir de 5ª feira, enfardas." Ok, senhor PT de rua. Gosto da parte do enfardar. Nós (eu e Catarina) cumprimos. Tristes, insuportáveis, alteradas e descompensadas, mas cumprimos.

Eu e a minha companheira de estrada corremos desde 2009 e já fizemos duas meias maratonas e muitas corridas por essa cidade fora. Somos muito focadas em objectivos e esmorecemos com alguma facilidade se não os conseguimos alcançar.

Vamos aqui esclarecer uma coisa: eu não gosto de correr. Correr custa como tudo. Mas adoro a sensação no fim da corrida, de saúde, de dever cumprido e de nos irmos  conseguindo superar. Prazer como tinha quando jogava ténis, nunca senti. Talvez no 1º, 2º km consiga ter esse sentimento de liberdade, ao ouvir música boa, de andar aí pela rua aos saltinhos. Mas o resto do tempo vou a arfar como um cão com esgana. Dói-me a alma, penso em parar de 30 em 30 segundos, tenho sede, irrita-me o pinguinho de suor que escorre pela testa e que me faz cócegas, ou o cabelo que se desprendeu do gancho e anda ali para cima e para baixo, ou o suor que escorre para os olhos e que me arde, ou o fio do ipod que se enrola no braço, ou fico enjoada, ou com frio interior que é uma coisa estranhíssima que sinto durante as corridas em que vou a puxar mais.

Vou numa luta interna constante. Se conseguisse falar, barafustava com toda a gente que ousasse aproximar-se a um metro de mim. Tudo me incomoda. Mas não consigo falar. Nem ouvir. Quando o Nuno corre comigo, no fim da corrida em que ele torce por mim, me espicaça e "faz assim e faz assado, levanta os pés, dá saltinhos, os pés menos tempo no chão, tem que doer, respira assim, respira assado" e eu arghhhhhhhhhh, cala-tiii! Pareço aquelas mulheres no fim do parto em que o marido diz: força força, push push! e elas não suportam e expulsam o marido da sala de partos. É assim que acontece. Ele agora já sabe. Basta estar ali ao lado, caladinho.

Somos umas meninas, como o Nuno nos diz. E somos mesmo. Treinamos que nem umas moiras mas queixamo-nos de tudo. Mas acho que já alcançámos muitos feitos. E já não escolhemos os percursos só planos (já não suportamos Belém, argh até me dá náuseas), e até a fazer aquelas subidas puxadas em Monsanto andamos. Estamos menos meninas. Mas levamos na cabeça na mesma. Eu porque páro para beber água. Devia beber a água em andamento. Ou porque vou a ouvir música enquanto devia ir a ouvir o corpo. Ou porque só como porcarias. Ou porque não respiro pelo nariz. Ou porque não me dói nada no fim e devia doer. Ou porque não cumpro os tempos que estão nos treinos ou porque páro no Verão. Em Julho e Agosto meto baixa na corrida. E deito todo o treino desde Janeiro por água abaixo. Chego a Setembro com 1001 objectivos mas com a forma de uma tartaruga com diabetes. Arrependo-me amargamente.

Mas também levo muitas festinhas porque o meu PT de rua também sabe incentivar-me como ninguém. E é ele que me aconselha e me dá alento. E ele sabe como eu sou preguiçosa e como a minha cabeça muitas vezes tem vida própria e não é fácil de domesticar. Mas a corrida foi como um bichinho que se entranhou assim de repente. Fui contagiada pelo Nuno, pelos meus cunhados, pelos amigos. Enquanto eles já correm maratonas por esse mundo fora e fazem tempos do além, eu vou tentando melhorar o mais que consigo.

Dia 28 os pros da família vão correr a Maratona do Porto. As ladies 15 km e a minha Joaninha vai correr 6 kms e treina com uma devoção contagiante.

Mas não esquecer como isto tudo começou: com o trambolho. Nota-se portanto alguma evolução :)

16.10.12

Última paragem em Tanganika.

Antes de chegarmos a Ngorongoro visitámos uma vila masai. Há imensas espalhadas pelos parques nacionais da África oriental, só na Tanzânia são mais de 400 mil masais que podem viajar livremente entre as fronteiras do Quénia e Tanzânia. Não têm receio dos animais selvagens, explicou-nos um deles, os animais é que têm medo deles. E matar um leão dá-lhes uma grande fama e valor dentro da comunidade.

Fizeram uma dança masai, saltámos com eles e fomos inundados de bijuteria masai que nos queriam vender. Quando demos por nós já tinha 20 colares em cima, 50 pulseiras e outras traquitanas. Lindas mas caras. Visitámos uma das cabanas, que são construídas pelas mulheres com estacas de acácia, lama e esterco de vaca. Estava muito escuro, tinha uma pequena fogueira que eles chamam cozinha, um buraquinho que era a janela e uma zona com paus e pele de animais que era a cama. Só passado alguns minutos depois de lá estarmos os cinco sentados, com a vista a habituar-se à escuridão, é que percebemos que estava também uma pessoa a dormir.


Cada masai pode ter uma série de mulheres mas cada mulher vive na sua própria cabana. Parece-me bem. Todas juntas, só podia dar para o torto. Os homens caminham muito pela savana enquanto pastam o gado e o filho do chefe, que falou connosco num inglês irrepreensível, chegou a palmilhar 70 kms num só dia, sem comer nem beber, para vender apenas uma vaca, por sinal doente, no lado queniano. Ainda eu me queixo quando corro 10 quilómetrozinhos. É outra fibra, sem dúvida.

Mostraram-nos a escola da vila onde vão as crianças até aos seis anos. Cantaram para nós com aquelas vozinhas pequeninas e empenhadas. Quando fazem 6 anos, se tiverem dinheiro vão para as escolas fora da vila. Por isso é tão importante que os turistas visitem as vilas, sempre é algum dinheiro que ganham para comprar coisas como medicamentos e toda a alimentação, pois para além do gado não cultivam nada.


O chefe desta vila tem 98 anos mas andava por aí a pastar as vacas, sabe-se lá onde. É um povo parado no tempo, mas com todo o encanto que isso carrega. Andam vestidos com mantos onde predomina o vermelho e as meninas já anunciaram que se querem mascarar de masais no Carnaval. A Rita entretanto mudou de ideias. Mas quando saiu de lá, basicamente queria ser uma masai. Tantas jóias e berloques é a carinha dela.

A caminho de Ngorongoro o nosso guia, que tinha olho de lince, avistou um bando de leoas à sombra de uma árvore mesmo na beira da estrada. Foi o delírio. Mesmo depois de vermos tantas vezes estes animais poderosos, ficávamos em êxtase quando estávamos cara à cara com o rei da Selva. Durante o safari dentro da cratera, onde há poucas árvores (apenas nas encostas) os leões andam sempre à procura de sombra e basta um jeep parar perto deles, para logo se movimentarem para a sombra projectada pelo carro. E isso aconteceu com um que estava ao nosso lado, mas a leoa pôs a cauda de tal forma, que se o jeep andasse ou lhe pisava a cauda ou o corpo. E ela não estava com muita vontade de se mexer. Foi engraçadíssimo. O jeep bem punha o motor a funcionar para tentar que ela se levantasse, mas era como se nada fosse, nem pestanejava, nem sequer um olho abria. Estavam condenados a ficar ali até à noitinha. São lindíssimos, mas são uns sornas de primeira. Os leões dormem 20 horas por dia. E a senhora dona leoa é que caça.

Quando chegámos ao hotel no cimo da cratera, percebemos que íamos rapar um grizo daqueles. Não fomos muito bem preparados para o frio, já andávamos a repetir calças imundas e sweats há alguns dias. O lodge era antigo, mas tinha uma vista soberba para a cratera. Só que as janelas nos quartos não tinham qualquer tipo de calafetagem, os cortinados esvoaçavam dia e noite. Os aquecedores era como se não existissem e tomar banho era um pânico, cada vez que tínhamos que sair da água quente para o ambiente frio. Mas à noite deixavam um saquinho de água quente para cada um, que era um mimo.

No safari na cratera vimos finalmente o único dos Big Five que ainda não tínhamos avistado. O rinoceronte. Estava muito vento e eles normalmente escondem-se porque são muito sensíveis ao som, por isso só os avistámos bem ao longe. Mas fizemos uma festa, era o único que nos faltava.

A cratera deixou muitas saudades. Siga para Zanzibar. Num voo a hélice, como eu gosto.