acabou com a escolha de uma casa nova pela qual nos apaixonámos. E o início do ano começou com a notícia de que iríamos mesmo poder comprá-la.
Tenho alguma pena em sair desta casa, porque nasci, cresci aqui e voltei quando casei. Além disso foi onde a Joana e a Rita nasceram. Mas a casa está a arranjar forma de me irritar de tal maneira que estou desejosa de sair. Depois daqueles dias em que tudo parecia avariar-se, a saga continuou quase diariamente com qualquer coisa a partir-se ou alguma máquina que se estragou.
Desde o tecto da dispensa começar a pingar e encher baldes e baldes de água e criar bolôr que se espalhou como uma praga, até ao frigorífico que começou a criar gelo e que faz tanto barulho que parece que vai explodir, a máquina da roupa que teve de levar um motor novo, até uma porta do meu roupeiro que não abre, e a surpresa de encontrar de um dia para o outro os móveis do quarto da Joana cheios de bolôr, quando ainda quase não choveu.
Parece que a casa me está a dar um empurrãozinho para não ter pena de sair. Mas como vamos mudar ainda neste trimestre, estamos naquela fase em que já não vale a pena arranjar o que se avariou e já não vale a pena arrumar nada a fundo. E então o caos instalou-se e a ideia é conviver com o caos da melhor maneira possível. E por isso ando um bocadinho com os cabelos em pé, porque nem arrumo aqui nem posso arrumar lá. É uma espécie de limbo, já nem estou aqui mas também ainda não estou lá. E detesto sentir-me pendente.
Mas ao mesmo tempo até estou surpreendida, porque sendo eu uma pessoa que abomina mudanças de qualquer tipo, aqui sinto exactamente o contrário. E é um alívio saber que vou para uma casa de que gosto mesmo 100%. Ajuda a não sentir muita nostalgia. Ou então, adia-se a nostalgia para mais tarde.