2.11.12

Para a corrida do Porto (15km)

ia assim num misto de expectativas baixas com uns laivos de optimismo porque tenho sempre uns momentos delirantes em que acho que estou dois meses parada mas que quando recomeço vou estar uma estampa. 

Não queria ultrapassar a 1h30, mas depois da miséria de tempo na Corrida do Tejo, não estava assim muito confiante, mas lá está, ao mesmo tempo achava que ia despachar aquilo num instante. É assim um sentimento meio bipolar de ahhh, se calhar nem consigo acabar..., com uma euforia género ahhh é que se calhar mais um bocadinho e até tinha corrido a maratona!

Mas tinha que correr bem, afinal treinei que me desunhei, andei a passar fome durante dias, a comer peixinho e comida de coelho para depois armazenar os tais hidratos de carbono a que tinha direito. A partir de 5ª feira foi assim um descalabro em termos de alimentação, sempre com muita massa (é que não me falem em esparguete). Mas realmente as pernas estavam com outro andamento.

Fomos todos em família para o Porto, família de corredores e de alguns não corredores mas grandes apoiantes. E a criançada que cresce a ouvir falar em pace, quilómetros, treinos e dores musculares e a ver pai ou mãe, quer faça chuva ou faça sol, a sair estrada fora para uma corridinha.

Estava um frio de morte, sol mas um vento cortante e durante a espera na partida, os meus dentes batiam, toda eu tremia. Os quenianos à frente e os meus chineses logo a seguir. Orgulho. O Nuno que se supera constantemente e que tem uma força de vontade e uma dedicação que eu almejo ter um dia. Que me motiva como ninguém, mas que também sabe chamar-me à terra quando é preciso. Não se queixa de nada, se for preciso corre 30 kms no Alentejo sozinho e logo a seguir vem de bicicleta acompanhar-me nos meus treinos. That's my boy. O Ricardo que parece que faz isto com uma pernas às costas e que me matraqueia sempre sobre a alimentação. Corre aos saltinhos com uma leveza e respira só pelo nariz, que é uma das minhas grandes ambições de vida :). O João, um optimista por natureza e sempre pronto para grandes desafios com os irmãos, nunca hesita. De alças na partida, sem sentir frio como se estivessem 35 graus. Sempre o conheci assim de manga curta em pleno inverno.

Eles partiram e nós ficámos cá mais para trás com uma visão sobre a mancha de corredores na subida logo em frente, a rua às cores cheia de gente, malta nova, algumas crianças, muitos velhotes chupadinhos ou barrigudos, velhotas que me ultrapassam, homens feios, bonitos, mulheres magras, gordas. Mas todos com uma razão muito particular para o fazer. 

Soube-me mesmo bem correr neste dia, apesar das enormes dores de garganta e do ar frio que me doía e das rajadas de vento que tanto me empurravam como me travavam. Ia leve, feliz com a playlist no ipod, entretida a ver as ruas do Porto e sem caminhantes para ultrapassar, que muito respeito, mas que atrapalham tanto os inícios das corridas.

 Fiz os 10 kms em 56 minutos. Estava maluca com o meu pace, não me sentia cansada. O percurso era fácil, tinha descidas, muito trajecto plano e algumas subidas curtas, tirando a última mais longa. Os tais 15 km, são afinal mais de 16 km e no fim fui atacada na subida por dor de burro que teimava em não passar, já nem me conseguia endireitar. Quando o relógio apitou os 15 kms não havia sinal da meta. Continuei a subir irritada como uma bombinha de carnaval prestes a rebentar. Aos 16.300 lá passei a meta meia marreca. Fiz os 15 km em 1:28. Os 16.300 fiz em 1:36.

Reencontrei-me com a Catarina e Isabel e lá fomos nós posicionar-nos para ver a Joaninha que entretanto fez a caminhada a caminhar. Saltei as barreiras e vim a correr de mão dada com ela até à meta, mas coitadinha vinha adoentada e frustrada por não ter conseguido correr, mas a tosse não deixou. A seguir fomos aplaudir os maratonistas e apanhar os nossos e correr um bocadinho com eles na recta final. Muito pouca gente na rua a aplaudir, só mesmo perto da meta. É pena não se conseguir mobilizar mais as pessoas. Mas tentámos dar algum alento naqueles minutos finais e mostrar que a meta era já ali ao virar da esquina.

No fim, um banho quentinho, um belo bife cheio de molho, muita batata frita (juro que ouvi o meu corpo a dar gritinhos de alegria) e uma rouquidão que me deixou afónica. Mas esta corrida motivou-me como poucas e já sonho com voos um bocadinho mais altos.

4 comentários:

Isabel disse...

Essa adrenalina da superação compensa todos os sacrifícios e dúvidas até lá chegar. São momentos de grande bem estar, alegria e felicidade. E deixam outra marca fundamental - a da esperança, de conseguirmos para a próxima sempre um bocadinho mais e melhor. Mas esses saltos qualitativos, físicos e mentais, não são uma sequência linear e progressiva toda certinha. Há que não desanimar e persistir nos momentos menos bons, exatamente como vocês têm feito. Minhas heroínas!

Umbigo disse...

Obrigada querida Isabel, é verdade o que dizes. queremos-te a correr connosco numa prova em breve!! ó vá lá, anda lá! :)

Catarina Trindade disse...

Lindo o teu texto Inês.
Foi tudo assim...tal e qual.
E essa alegria que finalmente sentimos quando corremos. A sensação que conseguimos muito mais e melhor. E saber que há amigos, amigas, maridos, cunhados, filhos, família a acreditar em nós!
Há muito pouca coisa que nos encha a alma como isto...
Obrigada por seres a minha lebre e muito mais!!!

Umbigo disse...

somos a lebre uma da outra! e nem sonham com o que aí vem! : )