
É um ponto e vírgula. Muito pequenina, tanto que andamos sempre a tropeçar nela, mas rechonchuda e cheia de genica. Tirando o já tá que raramente diz, só diz uma palavra que é máááíííí. Diz com uma entoação bem forte sempre que quer pedir alguma coisa. Aponta e grita máááííí. Normalmente é para pedir comida. Quase sempre é para pedir comida.
Tem um ar muito esgroviado, com o cabelo quase sempre altamente despenteado. Não há gancho que lhe pare na cabeça. Mal o ponho, é logo arrancado, com um sorriso maroto de vitória. É tão desengonçada e como não tem paramento, às vezes parece que anda com os copos, aos tropeções de um lado para o outro, muitas vezes cheia de sono, porque continua a dormir muito pouco de tarde. De vez em quando abanca ali ao pé da porta de saída e grita máááííí porque quer ir passear e quando vem da rua, recusa-se a saír do elevador. Vira-nos as costas. Adora andar o dia inteiro de estetoscópio ao pescoço e depois anda pela casa a fazer aaaaaaaah, a respirar fundo toda contente e a dar gritinhos de alegria. Mas no médico grita que nem uma perdida cada vez que a querem auscultar.
Adora comer mas está farta de sopa e abana vigorosamente a cabeça a dizer que não logo na 2ª colherada. Acaba por comer, porque está sempre rota mas depois lá começa a cantilena do máááííí, ou melhor, a gritaria, até ter um pratinho cheio de arroz e carninha que come com os dedinhos em forma de pinça. Tem 6 dentes apenas e não sei como é que tritura certas comidas. Está sempre muito muito bem disposta e é muito mais dada que a Joana era na idade dela. Não tem comparação. Sempre que lhe leio um livrinho, passa rapidamente as páginas até chegar ao fim e vai logo buscar outro. Não liga nenhuma à história, é activa demais para isso. Liga a televisão sozinha e anda sempre a mudar de canal. Se queremos ver alguma coisa, temos que lhe esconder os comandos.
Cada vez que vê um degrau alça a perninha, parece um cãozinho a fazer as necessidades. Cresce 1 cm por mês. No banho enfia a cara na água e faz bolhinhas. De vez em quando bebe uns pirolitos, engasga-se toda, fica cheia de espuma na cara, mas não se atrapalha e continua. Adora areia da praia e come punhados uns atrás dos outros. Um nojo. E chega a enfiar a cara na areia e esfrega-a vigorosamente e depois chora muito porque não consegue abrir os olhos. Quando lhe peço um beijinho, encosta a cara a mim e fecha os olhinhos. Um doce. Continua a gritar sempre que sai do banho, é assim desde que nasceu. Por ela ficava lá a noite toda. Tenta agarrar a água que sai da torneira e irrita-se porque não consegue. E adora destapar o pipo da banheira, que não dá jeito nenhum, porque lá se vai a água toda. Não gosta de estar sozinha, é a minha sombra.
Está crescida. E o tempo agora pode começar a passar mais devagarinho.